Texto por: Marina Freitas, Diretora pedagógica e Mantenedora da My School Educação Bilíngue.
É notável que no estilo de vida atual se faz necessário falar mais do que uma língua. Muitos adultos sofrem com a realidade de não terem tido a oportunidade de aprender um segundo idioma e na vida profissional muitas vezes são exigidos a usar outros idiomas para conseguirem progredir em suas carreiras.
No Brasil, país que adota apenas uma língua como oficial, as famílias se deparam com a necessidade de cuidar dessa introdução de um segundo idioma, já que ela não acontece espontaneamente. Cabe aos pais então, a tarefa de escolher qual será o segundo idioma, como e quando ele será introduzido.
Perguntas como “qual a idade certa para se introduzir uma nova língua?”, “se os pais não falam essa segunda língua, a criança pequena consegue aprender sem ficar confusa?” e muitas outras são levadas em conta na hora de decidir.
A diversidade de propostas é grande, e cada uma delas pode ter bons resultados se aplicadas na situação adequada, mas uma delas tem sido escolhida por um número cada vez maior de famílias: as escolas bilíngues. Essas escolas, quando trabalham com imersão, costumam ter excelentes resultados. Pesquisas e exemplos da vida prática se mostram positivos e favoráveis ao bilinguismo na primeira infância. Quanto mais cedo as crianças ou bebês são expostos ao segundo idioma, mais confortáveis eles ficarão nesta língua.
Famílias bilíngues muitas vezes adotam a estratégia conhecida como “one parent – one language”, abordagem na qual um dos pais fala uma língua e o outro fala a outra.
Na rotina de crianças e bebês que frequentam escolas bilíngues de imersão, essa abordagem se reproduz. A família fala português e as professoras servirão de referência do inglês ou do idioma adotado na escola.
Mesmo em países onde duas línguas são oficialmente adotadas, as crianças demonstram a capacidade linguística de construir e distinguir os dois idiomas sem problemas. A criança presencia os membros da família alternando entre os idiomas (processo chamado de “code switching”), “mistura” também os idiomas na sua produção oral, e mesmo assim consegue rapidamente compreender que são dois idiomas distintos.
Quando têm que lidar com dificuldades tais como dislexia ou discalculia, as crianças bilíngues demonstram mais facilidade de superar as limitações impostas pelos transtornos do que crianças monolíngues. O bilinguismo fortalece áreas do cérebro responsáveis pela memória de trabalho. Segundo estudo realizado nas Universidades de Granada e de York em Toronto (publicado em “The Journal of Experimental Psychology” no ano de 2013), estas áreas do cérebro atuam tanto no processo de cálculo mental como no processo de leitura e compreensão de texto. Desta forma, crianças que sofrem com os transtornos citados e que são bilíngues, têm a memória de trabalho fortalecida e, portanto, mais recursos para lidar com as dificuldades.
Exames de imagem do cérebro revelam também maior densidade de massa cinzenta nas áreas associadas à linguagem em pessoas que aprenderam uma segunda língua antes dos cinco anos de idade (Mechelli A. , et ai., Nature . Oct. 14th (2004)). As consequências disso podem ser facilmente identificadas na prática ao observarmos a flexibilidade linguística, a capacidade de compreensão de texto, a comunicação e o uso criativo da linguagem dos indivíduos bilíngues que tiveram essa vivência iniciada na primeira infância.
E, ainda, pensando a longo prazo, o aparecimento dos sintomas de demência senil em indivíduos bilíngues foi retardado em 4 anos quando comparados a adultos monolíngues. (Paradis, J., Genesee, F., & Crago, M. (2011). Dual Language Development and Disorders: A handbook on bilingualism & second language learning.)
Esses são apenas alguns dos benefícios que podem ser observados ao se estudar a trajetória de pessoas bilíngues que tiveram a introdução do segundo idioma ainda na primeira infância. Quando nascem, os bebês tem seu aparelho fonador preparado para aprender e produzir qualquer idioma. Com o passar do tempo, os fonemas da língua materna se fixam e o bebê por volta dos 9 meses de idade tem reduzida a capacidade de produzir sons que não pertencem à língua materna e aos quais não foi exposto.
Ainda, as crianças, quando aprendem um segundo idioma até os cinco anos o vínculo afetivo com o idioma é mais forte, a língua é aprendida seguindo um caminho natural (primeiro pela fala e depois a língua formal), a ela é capaz de produzir os sons de ambos idiomas de forma fluente e também ajuda na construção de cérebros mais plásticos. Mesmo sendo possível aprender um idioma em qualquer idade, existem muitas vantagens quando essa aprendizagem acontece antes dos cinco anos.