Alfabetização em um contexto bilíngue

Texto: Marina Freitas, Diretora Pedagógica e Mantenedora da My School Educação Bilíngue.

Um dos marcos mais importantes na vida escolar é a aprendizagem da leitura e da escrita. Atualmente há diversas abordagens metodológicas que fundamentam as ações nas diferentes escolas. A alfabetização tem tal importância, pois fornece as ferramentas necessárias para que os demais aprendizados ocorram.

Anteriormente quando a cultura era passada de uma geração para outra apenas através da tradição oral, boa parte do aprendizado dependia de um interlocutor que podia compartilhar saberes.

A partir do momento em que a leitura e a escrita aparecem como um recurso acessível para todos, os indivíduos tonaram-se mais autônomos no processo de aprendizagem, podendo buscar o conhecimento em livros e outros registros escritos. Com o advento da internet a informação ficou ainda mais acessível para todos.

Nesse cenário bastante favorável ao aprendizado e ao acesso às informações, fica ainda mais evidente a importância da alfabetização como forma de ingresso no mundo do conhecimento. Após alfabetizada a criança que que tem o apoio, direcionamento e orientação de bons educadores, pode tornar-se protagonista de sua jornada de aprendizagem.

Recentemente, a educação bilíngue tem sido uma ótima opção considerada por diversas famílias. Nesse contexto, a alfabetização pode ocorrer de diversas formas, introduzindo antes a língua materna ou ambas simultaneamente. Mas será que este cenário é de fato favorável para as crianças?

Para que possamos fazer uma análise mais precisa, é necessário que nos aprofundemos um pouco no processo de aquisição linguística.
Para de fato dominar um idioma é necessário que as quatro habilidades linguísticas sejam asseguradas, e são elas: a compreensão auditiva, a fala, a escrita e a leitura. Quando uma língua é aprendida num contexto social, e não apenas como aprendizagem de língua estrangeira, a compreensão e fala costumam acontecer antes da leitura ou da escrita.

Para aprender a falar qualquer língua a criança parte de uma base comum, que é oferecida pelo aparelho fonador. Ela explora no balbucio todos os sons que somos capazes de produzir. A partir do que ouve na língua que é falada ao seu redor, a criança vai restringindo os sons que produz àqueles que pertencem à sua língua materna. E em paralelo vai atribuindo significado ao que ouve e ao que fala.

Para aprender a ler e escrever em qualquer idioma também é necessária uma base comum, que por sua vez é oferecida pelo corpo que integra diversos aspectos e habilidades. A linguagem já aprendida, que permite que a criança entenda a função e uso da mesma; os gestos de coordenação motora fina, que permitem o traçado das letras; a coordenação viso-motora, que é necessária principalmente para a escrita e o reconhecimento de símbolos associados a determinados sons são algumas das habilidades necessárias.

Esse conjunto de habilidades precisa ser preparado antes que o processo de alfabetização se inicie, pois se a criança ainda não tem todo o repertório necessário, o processo não irá acontecer da forma desejada, acarretando no futuro uma série de déficits, dificuldades ou distúrbios de aprendizagem.

Sendo assim, ser alfabetizada em mais de um idioma ao mesmo tempo deve ser visto como um processo natural e viável. Desde que a escola crie experiências que preparem a criança para a alfabetização, independentemente da língua em que o processo irá ocorrer, ou se será em uma ou mais línguas.

O traçado firme e uma letra adequada são resultados de boa coordenação motora. O trabalho de aprimoramento da mesma se inicia na exploração da coordenação motora grossa, que vai a partir do seu refinamento possibilitar os movimentos de escrita precisos das mãos, braços e coluna. Brincadeiras como pular corda, correr e escalar brinquedos e atividades como amarrar os próprios sapatos, alimentar-se sozinho e modelar massinha contribuem para isso.

Para uma boa organização espacial da escrita e leitura são necessárias noções de lateralidade. Ler e escrever da direita para esquerda e iniciar a escrita no canto superior esquerdo do papel são conceitos que só são bem incorporados quando a criança consegue organizar o próprio corpo e movimento no espaço. Atividades como pular amarelinha, jogos como boliche e outras brincadeiras que usam o espaço ajudam a criança a formar esses conceitos.

Se a criança se prepara de forma plena, ela se mostra pronta para aprender a ler e escrever em uma ou mais línguas. E quando vive esse processo em dois idiomas de forma paralela, a criança cria diversas hipótese a respeito da construção de palavras em cada língua tendo um conhecimento mais rico e profundo de cada língua a medida que testa e descarta hipóteses que funcionam em um dos idiomas e não no outro ou quando testa hipóteses que funcionam em ambos.

Dessa forma a aprender é mais instigante, e de certa forma as crianças em contextos bilíngues assumem antes ainda de finalizado o processo de alfabetização o protagonismo nos seus processos de aprendizagens. E esse tipo de empoderamento, em ambientes escolares nos quais a criança é acompanhada e assistida por educadores preparados, costuma produzir crianças interessadas em aprender e buscar o conhecimento; fazendo com que o contexto bilíngue seja muito favorável para o processo de alfabetização e construção de saberes.

 

Texto: Marina Freitas, Diretora Pedagógica e Mantenedora da My School Educação Bilíngue.

Mindful School

Para que sejam felizes e tenham sucesso em suas vidas, nossas crianças e jovens precisam de diversas habilidades que vão além do excelente conteúdo acadêmico. Precisamos oferecer às nossas crianças e jovens habilidades que podem ajudá-las a lidar com os desafios atuais: distrações tecnológicas, dificuldade com regulagem emocional, stress e ansiedade, falta de atenção e concentração. Continue reading “Mindful School”

CINCO FERRAMENTAS BÁSICAS DE DISCIPLINA POSITIVA PARA A SALA DE AULA

Texto por Bete P. Rodrigues, Consultora de pais e educadores da Kindy Escola Americana

Este artigo apresenta apenas 5 ferramentas da Disciplina Positiva para auxiliar o educador no seu complexo papel no gerenciamento de sala de aula respeitoso. Essas ferramentas podem ser utilizadas nos mais diversos contextos de trabalho (diferentes tipos de escola, segmentos ou áreas do conhecimento). Tal como acontece com qualquer caixa de ferramentas, nenhuma ferramenta funciona em todos os contextos, por isso a importância de se ter uma variedade para escolher. Eu considero essas as mais básicas dentre as dezenas de opções existentes: Continue reading “CINCO FERRAMENTAS BÁSICAS DE DISCIPLINA POSITIVA PARA A SALA DE AULA”

POR QUE OS CONFLITOS SÃO TÃO IMPORTANTES NO ENSINO FUNDAMENTAL?

Texto por Carla Freitas, Coordenadora pedagógica do ensino fundamental na My School Educação Bilíngue

O ingresso no Ensino Fundamental é marcado por muitas mudanças na vida de uma criança. Até os cinco anos, ela passou por fases importantíssimas, aprendeu a andar, falar, brincar, imaginar, etc. A partir daí a nova jornada também será cheia de descobertas e aprendizado, e não quer dizer que será fácil! Continue reading “POR QUE OS CONFLITOS SÃO TÃO IMPORTANTES NO ENSINO FUNDAMENTAL?”

A Ludicidade no Processo de Alfabetização e Letramento

A alfabetização é um aprendizado de suma importância para o ser humano, pois consiste na instrução e no apoderamento do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação. A prática deste ensino se dá regularmente na educação infantil. Já se tratando de um cenário bilíngue, a alfabetização e o letramento ocorrem em dois idiomas e de forma simultânea. Continue reading “A Ludicidade no Processo de Alfabetização e Letramento”

Uso da tecnologia em sala de aula: um desafio promissor.

É certo que os alunos do século XXI não são os mesmos do século passado. E há tempos que se discute a ideia de como desenvolver nos alunos o interesse pela aprendizagem na era em que têm acesso a todo tipo de informação, a qualquer momento e em qualquer lugar. Continue reading “Uso da tecnologia em sala de aula: um desafio promissor.”

Bilinguismo por Renata Salvador Domingues Leal, Professora

Nos últimos 30 anos pesquisas têm mostrado que o aprendizado de línguas tem um impacto positivo na formação cerebral. Muitos estudiosos defendem que o esforço mental que pessoas bilíngues fazem para usar diferentes línguas é responsável pelo fortalecimento das funções cognitivas e que pode até mesmo proteger o cérebro em idade mais avançada. Há um consenso de que o bilinguismo proporciona um melhor desenvolvimento das funções cognitivas e também das funções culturais e sociais. Continue reading “Bilinguismo por Renata Salvador Domingues Leal, Professora”

Qual o olhar que tenho sobre o meu filho?

Adolescência… Pré-adolescência… pré da pré-adolescência…o que permeia esta fase de tantas questões, dúvidas, novidades que tanto angustia os pais? A quem a chame de “aborrecência”! A justificativa para tal classificação é sempre a mesma… “São aborrecentes, chatos, querem ser independentes, mas mal conseguem cuidar do seu material escolar!”. Pois é muito se ouve, muito se fala, mas pouco se sabe. Ou se que saber.

Adolescência é uma fase transicional entre a infância e a vida adulta que implica transformações perceptivas na vida de cada um. É nesta fase que o indivíduo se percebe como uma pessoa, que se distancia da zona de conforto, se afasta dos privilégios típicos da infância e se aproxima de responsabilidades características da vida adulta. Assumir papéis sociais, prover algo, ser alguém, ter uma boa carreira, uma boa índole… Ufa! As cobranças são muitas, mas para que eu cobre é necessário que eu oriente e este é o intuito deste texto.

Lemos diariamente em jornais assuntos ligados a esta delicada fase: Bullying, desafios, baleia azul, brincadeiras de mau gosto, amadurecimento sexual, interesse pelo proibido…É preciso que estejamos preparados para lidar, orientar e acima de tudo ouvir. É importante que estejamos conectados com este mundo, com esses assuntos. Que leiamos sobre tudo que envolve este universo.

Como educadores, nosso papel de direcionar a aprendizagem contando com o fator emocional não é uma tarefa fácil. Contudo torna-se muito prazeroso quando conseguimos ouvir e perceber nosso aluno como ser único. Estarmos antenados faz parte da nossa rotina. Afinal quantos youtubers passamos a conhecer? Quantas vezes, sozinhos em casa, cantamos “Sorry” do Justin Bieber, quantas selfies tiramos e quantas vezes tivemos que pedir para que guardem seus celulares em horários inadequados?rsrs, pois é faz parte! E como pais, como identificar esta linha tênue entre o excesso de liberdade e a negligência? Como dissemos anteriormente é delicado, mas necessário.

O assunto latente hoje em dia são desafios lançados em redes sociais que incitam o jovem a se testarem, provando aos demais que são corajosos e destemidos. É importante que tenhamos um olhar atento e delicado para nossos filhos. Acompanhemos dia a dia o que fazem, por onde andam com quem falam em redes sociais… Não senhores pais, isto não é invasão de privacidade! Nós somos responsáveis pela saúde física e mental de nossos filhos. Nosso papel vai além do cuidado… Acompanhar este processo também é um ato de amor! Nesta fase preparamos nossos filhos para que consigam discernir o certo do errado, o confiável do duvidoso… Se deixarmos isso a cargo de si próprio, o resultado pode ser desastroso. Os adolescentes estão construindo sua identidade, e cobrar deles tomadas de decisões que cabem a nós adultos é no mínimo leviano de nossa parte.

Não estamos defendendo o tratamento de adolescentes como bebês, mas incentivando que se deixe aberta a porta da comunicação, sempre! O importante é que eles tenham segurança para ir quando quiserem ir, que saibam dizer não quando não tiverem vontade, que tenham abertura para perguntar quando não souberem, e quando não soubermos que tenhamos a liberdade de procurar saber… Não sabemos tudo, mas já vivemos muito, pelo menos mais que eles… Não falar da realidade, camuflar situações de perigo, não responder a perguntas pertinentes que eles mesmos fazem não ajuda: Adia! Adia o que é inevitável, o conhecimento. Se não através de nós, eles buscam sozinhos na internet, e a interpretação pode ser quase sempre deturpada. Nem sempre o adolescente tem maturidade suficiente para lidar com as informações obtidas, o que promove “achismos infundados”.

Cada pai sabe o que deseja para seu filho, é importante que estejamos atentos aos sinais. Observe seu filho, converse com seu filho, estabeleça uma relação de cumplicidade para que isto fortaleça a segurança de que o mundo é grande, é enorme, os desafios são infinitos, e nada é fácil nesta vida. Mas como dissemos: deixá-los seguros de que estaremos sempre no mesmo lugar, para que se um dia tiverem vontade poderão pedir ajuda… SEMPRE!!!

Texto: Renata Louzada – Coordenadora Pedagógica Amazing School

Vantagens do Bilinguismo

Por Ana Paula A. Mustafá Mariutti

Sempre me interessei por línguas e desde adolescente dediquei meu tempo para estudá-las, via escolas de idiomas e mais recentemente por apps, sites e contatos com estrangeiros. Fico fascinada em poder entender o que os outros falam e não gosto quando não consigo interagir com falantes de outros idiomas que não o inglês e espanhol, que eu domino bem.

Assim, quando meus filhos nasceram, decidi que eles tinham que ser bilíngues, que não era uma opção. Após ter trabalhado em escolas bilíngues e internacionais por muitos anos, já sabia que não queria deixar isso prá depois:  eu via na prática, com os meus alunos, que é muito mais fácil para crianças aprenderem um idioma do que um adolescente ou adulto, pois com o passar dos anos esse processo fica bem mais sofrido…

Enfim, me comunicava com meus filhos em inglês e os matriculei na Builders com 1 ano de idade. Eles rapidamente adquiriram a língua e quando saíram de lá (naquela época não oferecíamos o Ensino Fundamental) foram para outra escola bilíngue, onde continuaram aprimorando o inglês e até tiveram contato com o alemão.

No 7º ano do EF eles foram para uma escola brasileira regular que oferecia aulas de inglês 2 vezes por semana, onde eles quase davam aula para o professor, de tão sabidos que já eram no idioma. Mas eu sabia que tinha espaço para o aprendizado da gramática, de forma sistematizada, afinal eles possuíam fluência total e um amplo vocabulário, mas as estruturas, os nomes dos tempos verbais, isso só se aprende em curso de idiomas mesmo (ainda questiono a necessidade disso, mas enfim…).

No 8º ano nos mudamos para os EUA para um período sabático e preciso dizer que eu e meu marido “babamos” ao ver nossos meninos super fluentes, desde o primeiro dia de aulas bem integrados na escola, absorvendo 100% do conteúdo em inglês e participando de tudo como os demais “gringos”da sala. Em poucos meses, soavam como nativos, tamanha a facilidade e desenvoltura que já possuíam com a língua.

Depois que eu e meu marido voltamos para o Brasil, eles continuaram morando lá, em uma “boarding school”. Depois de quase 3 anos fora do Brasil, soam como falantes nativos em inglês e agora o foco é o espanhol, que os dois escolheram como aula optativa. De lá o rumo é um “college” americano.

Enfim, acredito que independente de qual vai ser a escolha para seus filhos, se vão frequentar escola bilíngue só na Educação Infantil, se vão continuar essa modalidade no Ensino Fundamental 1, 2, no Ensino Médio, se vão estudar em escola internacional no Brasil, se vão morar fora do país… isso não importa. O que importa é lembrar que vale muito a pena dar a eles a oportunidade de aprender uma segunda, terceira, quarta línguas. Que a vivência nesses ambientes  multiculturais só acrescenta, deixando-os muito preparados para o futuro.

Ah, e que ninguém garante nada, mas que falar inglês já é mais do que meio caminho andado, isso ninguém pode negar.

 

Ana Paula A. Mustafá Mariutti atua na educação bilíngue desde 1986. Possui formação em Tradução/Interpretação pela Alumni, curso superior de Pedagogia, e diversos cursos relacionados à educação bilíngue e à gestão escolar no Brasil e no exterior. Participou ativamente na fundação da Oebi – Organização das Escolas Bilíngues, a qual presidiu durante 12 anos. Atuou na gestão da instituição à distância de julho 2014 a junho 2016, quando residiu nos EUA. Nesse período, aprofundou seus conhecimentos sobre a educação bilíngue oferecida em escolas públicas e particulares de educação infantil e ensino fundamental bilíngues americanas.