Texto por Carla Freitas, Coordenadora pedagógica do ensino fundamental na My School Educação Bilíngue

O ingresso no Ensino Fundamental é marcado por muitas mudanças na vida de uma criança. Até os cinco anos, ela passou por fases importantíssimas, aprendeu a andar, falar, brincar, imaginar, etc. A partir daí a nova jornada também será cheia de descobertas e aprendizado, e não quer dizer que será fácil!

Normalmente, a criança de seis anos já tem autonomia para fazer uma lista enorme de coisas sem ajuda de um adulto e precisa ser incentivada. Alguns exemplos disso são: se vestir, calçar e amarrar os sapatos, se alimentar, ir ao banheiro e cuidar da própria higiene de maneira razoável.

Quando confiamos à criança tarefas que ela tem condição e maturidade para fazer, ela se sente motivada e capaz. Além disso, ela se vê cada vez mais responsável por si e pelas suas ações, o que a leva a se interessar pelo mundo e buscar novos desafios.

Nessa nova fase da vida da criança, seu pensamento é mais elaborado. Ela passa a questionar mais o que acontece ao seu redor e a refletir sobre como se relaciona com os outros. Sua motivação para aprender, se engajar em novos projetos e enfrentar situações está diretamente ligada ao modo como se sente: se a criança não consegue resolver algo que a incomoda ou entristece, ela terá seu desempenho comprometido em toda e qualquer atividade, brincadeira ou interação social.

É por isso que os conflitos são tão importantes no processo de ensino-aprendizagem!

É através de desafios e conflitos que a criança tem a chance de sair de um estado de comodidade ou aceitação e entrar em um estado de incômodo ou incerteza. Só então ela fará algo para mudar o cenário atual, o que envolve desenvolver inúmeras habilidades como, por exemplo, criar ferramentas para lidar com variadas situações.

Outras habilidades como ouvir, dialogar, refletir sobre seus atos, responsabilizar-se por suas ações e tomar decisões individuais e em grupo também são imprescindíveis nesse processo, sem esquecer a busca pelo equilíbrio e o respeito em relação às diferenças e às necessidades dos outros.

Ao se envolver em um conflito, por exemplo, a criança tem a chance de pensar e testar soluções que respeitem os envolvidos e, assim, não só aumentar seu repertório de ações, mas também protagonizar as resoluções.

Telma Vinha diz que os conflitos fazem parte da realidade social e servem como gancho para a formação de seres humanos mais preparados para a vida. Diz que a discordância é necessária. É o que nos move. Precisamos ir às causas dos conflitos, e a solução tem de representar princípios de justiça. Os conflitos são naturais na relação educativa e pertencem aos envolvidos. O adulto deve agir como um mediador incentivando as crianças a falarem sobre seus sentimentos e atos.

Os conflitos são oportunidades para trabalharmos valores e regras, explicando que eles são entendidos como momentos presentes no cotidiano, os quais nos possibilitam perceber o que os alunos precisam aprender (Vinha, 2007).

Atitudes como empatia, compreensão, saber escutar, incluir o colega nas brincadeiras, ajudar e pedir ajuda também colaboram para criar um ambiente positivo e saudável.

É pela cooperação, e não pela coerção, que um indivíduo liberta-se de seu egocentrismo e tem a oportunidade de desenvolver a capacidade de compreender o outro como seu igual (Piaget,1998).

Os alunos devem aprender a raciocinar sobre problemáticas que surgem das relações interpessoais a fim de que se tornem sujeitos capazes de lidar com as emoções associadas a ela: se um indivíduo deixa-se levar pelas emoções e pelos impulsos sem nenhuma reflexão prévia, será conduzido a respostas primitivas como agredir, inibir-se para agir ou esconder-se no ressentimento (MORENO; SASTRE, 2002).

A criança que cria hipóteses e busca possíveis respostas para qualquer tipo de situação ou problema aprende a pensar, aprende a solucionar, aprende a se preparar para a vida.

REFERÊNCIAS E TEXTOS RELACIONADOS

BIAGGIO, A. M. Lawrence Kohlberg: ética da educação moral. São Paulo: Moderna, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais (PCN): introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. 126p.

CARITA, A. Conflito, justiça e cidadania. Aná. Psicológica [online], v.22, n.1, p.259-267, 2004.

LEME, M. I. Resolução de conflitos interpessoais: interações entre cognição e afetividade na cultura. Psicol Reflex Crit, v.17, n.3, p.367-380, 2004.

MORENO, M.; SASTRE, G. A aprendizagem emocional e a resolução de conflitos. In: Resolução de conflitos e aprendizagem: gênero e transversalidade. São Paulo: Moderna, 2002.

PIAGET, J. (1932). O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994.

VIDIGAL, S. M.; VICENTIN, V. F. O processo de resolução de conflitos entre crianças e adolescentes. In: TOGNETTA, L. R.; VINHA, T. P. É possível superar a violência na escola?: caminhos possíveis pela formação moral. São Paulo: Editora do Brasil, 2012.