Na década de 90 foram instituídas as primeiras aulas de computação nas escolas brasileiras, em que os alunos aprendiam noções básicas do uso do computador. Naquela época as escolas pioneiras montavam grandes salas com um computador para cada aluno ou cada dupla de trabalho. Com o rápido avanço tecnológico, logo essas aulas tornaram-se obsoletas e a sala repleta de computadores deixou de ser interessante.

Ao mesmo tempo em que a tecnologia se desenvolve e facilita a vida das pessoas, permitindo fácil acesso à informação, aumentam os riscos resultantes da exposição precoce e excessiva a esses recursos. Estudos recentes apontam o aumento da incidência de depressão em jovens que fazem o uso frequente de mídias sociais. Casos de dependência de internet são cada vez mais frequentes; tão frequentes que no Hospital das Clínicas de São Paulo, no ambulatório para o tratamento de dependentes, há profissionais especializados neste tipo de dependência. Além disso, estatísticas mostram que crianças que têm livre acesso à internet têm seu primeiro contato com pornografia por volta dos cinco anos de idade.

Neste contexto, junto com o surgimento de novos recursos como tablets e lousas digitais, as escolas tentam rapidamente se adaptar e acompanhar as mudanças levando esses recursos para a sala de aula. Há também escolas que investem largamente em adotar o uso de ferramentas tecnológicas de gestão do conteúdo e adotam o ensino de tecnologia de ponta, permitindo que os alunos sejam criadores e não apenas usuários de tais ferramentas.

Porém é evidente que os jovens não necessitam de aulas e tão pouco de professores para aprender a usar tais ferramentas em seu cotidiano, e ao mesmo tempo, usar tais recursos em sala de aula como meros substitutos dos livros didáticos parece não ser suficiente. Então, ficam colocadas as perguntas: o que mais cabe à escola nesta área? Como a escola pode ajudar na prevenção dos malefícios trazidos pela exposição excessiva e/ou precoce à tecnologia?

O uso da tecnologia nas escolas não deve se restringir ao simples uso de gadgets e ferramentas tecnológicas sem nenhuma reflexão, mas também não é papel da escola básica ormar especialistas em tecnologia. O uso desses recursos já faz parte da vida do aluno fora do contexto escolar, e é ingenuidade pensar que é necessário que o aluno aprenda a usar a tecnologia na escola. A resposta é mais simples do que parece; o primeiro desafio da escola não é incluir o uso dessas tecnologias no dia a dia do aluno, mas sim ajudar o aluno na reflexão sobre o uso tecnológico e o desenvolvimento do pensamento crítico acerca do assunto.

Cabe à escola também conscientizar os pais sobre seu papel no acompanhamento, supervisão e até na restrição ao acesso da internet e de aparelhos tecnológicos de acordo com a idade da criança, maturidade e necessidade de uso de tais ferramentas.

Mais importante do que tentar ensinar ao aluno como usar os recursos tecnológicos atuais é o papel do professor ao promover reflexões que levam o aluno a entender a origem da tecnologia atual. Saber que a tecnologia está ligada aos acontecimentos mais remotos que remetem ao uso das primeiras ferramentas desenvolvidas pelo homem, como a primeira calculadora de algoritmo criada em 1642, é um importante passo para entender a evolução tecnológica.

A partir dessas reflexões o aluno é capaz de usar tais recursos entendendo sua função na sociedade. Entrar em contato com a tecnologia a partir desta perspectiva também permite que o aluno se adapte às novas ferramentas que surgirão, e até participe da criação de tais ferramentas. A escola deve atuar como mediadora na construção do conhecimento a respeito da trajetória humana, associando a reflexões sobre o uso consciente dos recursos tecnológicos atuais. Essa abordagem torna-se fundamental para que os jovens usem a tecnologia a serviço de suas necessidades e não se tornem meros usuários inconscientes.

 

Texto Equipe My School