por be.Living

A literatura faz parte da história da criança desde que ela nasce. As famílias lêem livrinhos para os bebês, convidando os pequeninos para uma viagem de imaginação, criatividade e para diferentes formas de ver e narrar o mundo. Desde lá, é apresentado um universo letrado que, com o tempo, vai sendo desvendado pela criança, quando ela começa a dar sentido para aquelas letras, entendo que juntas, as letras formam palavras e que as palavras juntas comunicam algo.

Ao entrar em contato com os livros, as crianças aprendem a lidar com sentimentos a partir de diferentes narrativas e podem acessar a diversidade cultural. Além da questão social, a literatura trabalha, também, as questões pedagógicas. Sendo assim, é parte fundamental no processo de alfabetização das crianças e está presente diariamente na rotina da Educação Infantil da be.Living.

“Trazemos a literatura para as crianças pequenas de diferentes formas e estratégias. Todos os dias, realizamos uma contação de histórias pensando na melhor escolha do livro para cada faixa etária. Consideramos sempre, dentro da proposta de educação bilíngue, qual tipo de texto contribui para a aquisição da linguagem das crianças e para a melhor compreensão destes textos conforme cada faixa etária” – explica Patricia Dominguez, coordenadora do ciclo Infantil da escola.

Patricia explica que o trabalho com a literatura acontece no cotidiano escolar por meio de diversos gêneros textuais, sempre de forma muito contextualizada, considerando tanto o processo de cada grupo quanto as especificidades de idade, para que a aprendizagem faça sentido e componha o desenvolvimento das crianças. “Para os pequenos, trazemos histórias curtas, com textos que se repetem, chamando a atenção para estruturas e palavras, para que, aos poucos, eles possam ir dando sentido e compreendendo todo o enredo do livro. Outros gêneros também são trazidos: os nomes das crianças é um tipo de texto trabalhado diariamente, apresentando a função da escrita. Trabalhamos com o gênero de listas, com o gênero de entrevista, este último quando as professoras pedem que as crianças façam uma pesquisa com as famílias ou, ainda, quando alguém de fora é convidado para vir à escola para conversar com as crianças sobre determinado assunto que está sendo investigado em algum projeto”.

O Literary May é um evento que a escola realiza com o intuito de compartilhar com as famílias todo o processo de aprendizagem das crianças a partir da literatura. Os familiares da Educação Infantil foram convidados para virem à escola para conhecer as produções literárias de cada grupo, se inteirando da dimensão do trabalho que está sendo realizado com os pequeninos neste sentido.

A turma do YO 1 produziu um livro inspirado na nursery rhyme “Head, shoulders, knees and toes”. As professoras perceberam que essa cantiga, especificamente, chamou muito a atenção dos pequenos. “A cadência da música, a brincadeira dos movimentos, de apontar e nomear as partes do corpo, fazendo mais rápido e devagar, virou um jogo. Com isso, chamamos a atenção das crianças para os corpos delas, realizando um trabalho que está muito relacionado com a construção da identidade dessas crianças. Também chamamos a atenção para este corpo dentro do contexto escolar. Quando eu uso a minha mão na escola? Para pegar um livro, para pintar… Aonde coloco a minha mochila para cantar Goodbye e ir embora? No ombro. Que parte do corpo eu dobro para descer a escada ou para sentar em roda? O joelho! Então, eles foram brincando com o corpo dentro da nossa rotina, trazendo também o pertencimento deste corpo e o movimento deste corpo dentro da nossa escola.” – conta Patricia.

Já a turma do YO2, se inspirou no livro “The Family book”, de Todd Parr, para criar um livro sobre a família deles. Eles também trouxeram a construção de identidade para compor esse trabalho de literatura tendo as crianças como personagens. “O livro do Todd Parr traz, de uma forma muito natural, as diferentes configurações familiares. Trouxemos essa discussão para o YO2 através das diferenças que aparecem no grupo deles. Eles pesquisaram quais colegas têm irmão, quais não têm, perceberam que algumas crianças têm dois irmãos, outras não tem nenhum. Para a produção deste livro, contamos muito com a parceria das famílias que mandaram uma porção de fotos para concretizar essas discussões”.

O YO3 também produziu um livro inspirado na obra “We’re Going on a Bear Hunt”, do escritor Michael Rosen. “A partir desta leitura, as crianças começaram a questionar muito sobre o urso, sobre o porquê de ele estar perseguindo as crianças, o porquê de ele estar triste. Questionaram aonde estava a mamãe do urso e começaram, por meio do livro, a discutir as constituições familiares: quem é o papai e a mamãe de cada criança, quem tem irmão e quem não tem, e fomos abrindo um trabalho pensando na construção da identidade, na ampliação do repertório e do conhecimento de mundo. Com isso, o grupo fez um livro sobre as crianças saindo em busca do urso, aqui na escola. A ideia também foi trazer a brincadeira de procurar o urso dentro do contexto escolar, explorando os espaços de maneira sensorial, aprofundando um pouco mais sobre cada cantinho da escola e o que cada um deles representa para as crianças”.

A turma do YO4 também produziu um livro que tem as crianças como personagens principais, inspirada na leitura de “Brown Bear, Brown Bear, What do you see?”, de Eric Carle. A ideia foi desenvolver a construção da identidade por meio de discussões que vieram do livro. “Elas exploraram muito as cores, cores relacionadas aos personagens e o que na vida das crianças se relaciona com essas cores. Algumas crianças trouxeram, por exemplo, que a banana é amarela, fomos brincando com este conhecimento prévio das crianças e explorando, também, as cores na escola. Fizemos um Colour Hunt na escola e eles criaram uma história, mudando os personagens, trazendo as características físicas deles para o livro, percebendo semelhanças e diferenças entre eles”.

No Green, que é uma faixa etária em que as crianças já estão com o desenvolvimento oral mais elaborado, já verbalizando frases completas e com uma compreensão do Inglês, foram propostas algumas situações mais complexas. “A ideia foi que eles encenassem e verbalizassem algumas estruturas dos livros. Trabalhamos com estruturas que se repetem, pensando muito no desenvolvimento e na apropriação dessas estruturas. O Green 1 trouxe o enredo do livro “King Bidgood’s in the bathtub”, para muitas brincadeiras de faz de conta dentro do contexto da escola. Eles começaram a se questionar como eles tirariam o rei da banheira se ele estivesse aqui na escola e construíram o livro deles a partir destas experiências. O Green 2 realizou primeiro uma encenação baseada em dois livros distintos para poder escrever um livro autoral. A turma se inspirou nos livros “Giant Turner” e “The carrot seed”, e criou uma história própria chamada “The Giant Carrot””. Patricia explica que um dos projetos do Green é aprender a trabalhar em coletividade através do contexto escolar, pois nesta idade as crianças estão saindo da fase egocêntrica e adentrando para a fase social, identificando-se como membro de um coletivo, que tem direitos e responsabilidades.

Os grupos do Red trabalharam com as músicas chamadas nursery rhymes, que contam histórias curtas, traduzindo e concretizando suas percepções por meio de desenhos, auxiliando também os professores a entenderem a compreensão das crianças. “Como o Red já tem um desenvolvimento verbal mais elaborado, a ideia foi que eles pudessem recitar esses poemas em diferentes momentos do cotidiano escolar, conforme fosse fazendo sentido para eles. Para além de verbalizar, a ideia é trabalhar a pronúncia, o que chamamos de phonemic awareness, que é o desenvolvimento da escuta ativa que enfatiza a percepção de que a segunda língua tem uma pronúncia, um sotaque, diferente do português. Além disso, tem a questão das rimas, o que combina e o que rima com o que, uma brincadeira desse gênero textual que as crianças gostam muito”.

O Blue continuou brincando com as nursery rhymes mas, também, com as parlendas, pois o trabalho textual acontece no inglês e no português. “O trabalho do Blu é muito pautado no resgate de memórias pois este é o último ano na Educação Infantil. Em breve, eles vão passar para o Ensino Fundamental. A ideia é que eles percebam as vivências que tiveram ao longo da Educação Infantil e, tanto no inglês como no português, aprofundamos a questão da função social da escrita. No inglês, eles resgatam algumas nursery rhymes que aprenderam anteriormente. No português, através das parlendas, pensamos no desenvolvimento da escrita. Eles realizam um trabalho de pesquisa sobre as parlendas, questionando as famílias sobre quais parlendas os pais conhecem, que brincadeiras faziam na infância, ampliando, assim, seu repertório. Na escola, elas realizam atividades de escrita onde se arriscam a descobrir qual é a palavra, a sílaba, a letra que está faltando. Assim, a literatura vai auxiliando profundamente o processo de alfabetização que acontece nesta faixa etária”.

É sempre muito gratificante receber as famílias em nossa escola, compartilhando com mães e pais os processos de aprendizagem das crianças. Foi uma oportunidade de chegar mais perto do poder da literatura e de reconhecer o valor deste campo do conhecimento para o desenvolvimento de nossas crianças. Viva a potência da literatura!

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